Ancestralidade

Ancestrais que nos deram a vida, de um ventre ao outro, de mão em mão, de sopro em sopro sagrado, no entremear-se das almas através dos milênios sobre esta Terra. Os ancestrais são nossos antecessores e nossas próprias vidas passadas, e estão presentes dentro de nós em nossos genes, em nossas células. Portanto, as células do nosso corpo contêm ecos da nossa família e influenciam na forma que percebermos a realidade.

A conexão com nosso passado, com aqueles que vieram antes de nós, nos ajuda a encontrar força e sabedoria para caminhar no futuro. Nós somos o resultado de milhares de pessoas, que viveram, aprenderam, criaram, ensinaram. Eles tornaram possível nossa realidade, errando ou acertando. Eles honravam os que já passavam por nossa Terra. O que eles fizeram no passado impactam as gerações presentes.

A reconexão com os ancestrais ajuda a compreendermos quem nós somos e de onde viemos. Precisamos inventariar o que nos foi deixado de negativo para não repassarmos para as gerações futuras. Precisamos curar a ferida do nosso passado para reestruturarmos o nosso presente e assim termos mais esperanças no futuro. Assim como precisamos conhecer e honrar o que nossos ancestrais nos deixaram.

A
conexão com os ancestrais nos fornecem um sentido de continuidade que nos ajuda em momentos difíceis. Eles influenciaram nossa aparência física, nosso comportamento atual, nosso inconsciente, nossa energia. Influenciaram nossas escolhas, medos, sonhos, impulsos. Também a nossa etnia, nossas crenças e inspirações. Para honrar nossos ancestrais precisamos perdoá-los, pois esse ato de perdão, ajuda a curar as energias ancestrais negativas, nossa herança negativa. (culpa, ódio, rejeição, raiva, negação, etc.) Senão conseguir perdoar o ato, perdoe a pessoa, isso ajuda a liberar o padrão familiar negativo.

Nossos familiares passaram por muitas lutas, alguns enfrentaram a fome, doenças e até mesmo guerras. E assim como uma árvore precisa de raízes fortes para crescer e florir, nossos ancestrais foram nossos alicerces; somos o resultado de um futuro que eles sonharam. Dificuldades vencidas, vitórias, erros, falhas e enganos. Assim como nós, eles também estavam em processo de evolução.

As heranças ancestrais estão presentes em nossa vida, muito além de memórias afetivas ou lembranças no álbum de família. Nossa ancestralidade está ligada diretamente aos três pilares de nossa existência: físico, mental e espiritual. No físico, está presente na nossa biologia, nossos cromossomos. São os traços, aparência e até mesmo as doenças. No mental está nas nossas crenças, forma de pensar e até na nossa saúde mental. E no espiritual, está na herança que muitas vezes trazemos de geração em geração. Podemos acessar, quando nos reconectamos com os que vieram antes de nós e produziram nossa história, todos aqueles que contribuíram, da forma que foi possível, para sermos o que somos hoje.

Devemos honrar nossos Ancestrais para agradecer, e reverenciar. Quando honramos nossa ancestralidade, exprimimos isso aos que vieram antes de nós. Conseguimos agradecer por tudo o que foi feito para chegarmos aonde chegamos. Agradecemos, mas temos a escolha de seguir outros caminhos, pois temos ferramentas diferentes para ir ao encontro do que queremos para nós.

ANCESTRALIDADE: Honrar é retornar para si mesmo.

Orixás

Os Orixás têm uma origem cultural africana Nagô Yorubá; no entanto, para a Umbanda, o que importa é a Divindade em si e suas qualidades divinas, eles são considerados Divindades de Olorum, manifestações divinas, e isso quer dizer que são individualizações do próprio Criador em suas qualidades e sentidos.

Os Orixás são tronos divinos, cada trono é uma parte de Olorum, existem tronos para todas as funções divinas sustentadoras do universo e dos seres. Logo, os Tronos exercem funções e os nomeamos por elas.

O homem que constrói uma casa é um construtor. Só que para construir uma casa seu construtor precisa ter uma equipe de profissionais especializados, tais como o pedreiro, o carpinteiro, o serralheiro, o eletricista, o encanador, o pintor e cada um deles tem seus auxiliares, especializados ou não.

Cada um desses profissionais contribui com sua parcela de trabalho para que uma casa esteja pronta para ser habitada, com os tronos acontece a mesma coisa e o Trono Construtor dos meios destinados aos seres é uma emanação onisciente, onipotente e oniquerente de Olorum. Um Trono é um poder, Logo Trono e poder são sinônimos.

O Trono Construtor é uma manifestação de Olorum e o temos como responsável pela construção dos meios nos quais os seres vivem e evoluem continuamente.

Entidades

Trabalhadores da Luz.

As entidades que atuam na umbanda não são apenas uma raça ou uma religião, vem de todos os lugares da terra e trazem consigo os seus últimos ensinamentos religiosos, porém, já purificados os tabus criados pelos encarnados. Cada um entra com seu saber, poder e magia, mas todos seguem as mesmas ordens de trabalho.

Têm um saber muito grande, mas consegue se comunicar de uma forma simples. Têm o saber que nos falta e a paciência com os nossos erros, que os encarnados não têm.

Entidade de umbanda são espíritos que viveram na terra, que passaram por todas as provações terrenas, pelo processo de depuração e, se prepararam espiritualmente e escolheram ser espíritos trabalhadores da Luz

Hoje são entidades de umbanda. Eles são nossa família espiritual, são nossos guias, mestres e mentores que escolherem nos ajudar em nossa caminhada terrena.

Médium

A palavra médium muitas vezes é mal interpretada, pois muitos a confundem com conceitos errados e acham até coisas de “outro mundo”, condenando até algumas pessoas de se expressarem com tais dons.

Na verdade, ser Médium é ser antes de tudo ser Transmissor e Receptor. Temos um bom exemplo no rádio, que recebe as ondas em forma de frequência, as transforma e transmite em forma de som para que todos possam ouvir.

A televisão é um exemplo mais amplo ainda, já que além do som, transmite ainda as imagens. Nem o rádio e nem a televisão são donos das frequências em forma de onda, que recebem e transmitem. Estes objetos são nada mais que receptores e transmissores de alguma coisa, no caso, as ondas em formas de frequências.

Médiuns umbandistas precisam se conscientizar da responsabilidade quanto ao atendimento de pessoas em nossas casas.

Sobre isso, existem alguns pontos a serem observados:

– Nunca devemos pensar que a responsabilidade de um atendimento é toda da entidade, também temos uma grande parcela de participação em todo o contato com os consulentes.

De uma forma simples podemos entender assim: O médium gera uma energia que ao juntar-se à energia da entidade, que venha a incorporar, cria-se uma terceira energia, a que vai atuar durante o atendimento, portanto se o médium estiver em desequilíbrio, afetará a eficácia do atendimento. Sempre que formos aos trabalhos devemos tentar ao máximo estarmos equilibrados, e se não for possível, o correto seria não atendermos diretamente a ninguém, pelo menos até estarmos melhores.

– Devemos ter muita atenção ao que é falado as pessoas, lembremos que muitos que vão até os terreiros, muitas vezes estão desesperados, abalados emocionalmente e psicologicamente. Há a possibilidade de interpretarem erroneamente as palavras e também podemos estar criando ilusões que podem vir a se tornar decepções.

– Outro ponto a ser considerado é o atendimento a pessoas com algum tipo de doença. Em hipótese alguma podemos fazê-la pensar que pode parar com os medicamentos receitados por seu médico por simplesmente estar se tratando também no terreiro. Caso a pessoa faça isso e piorar seu estado de saúde ou até a morrer, podemos ser responsabilizados criminalmente.

– Nunca podemos receitar remédios que não sejam de ervas ou naturais e, mesmo assim, tomando muito cuidado. Muitas ervas se não usadas corretamente podem causar efeitos colaterais, pois são tóxicas. Lembrem-se, receitar remédios (fármacos/medicamentos) sem estar habilitado para isto é exercício ilegal da medicina.

Irmão de fé, vamos ser umbandistas com ética e responsabilidade. Não vamos prometer milagres que sabemos não sermos capazes de realizar. Não vamos criar falsas ilusões que venham mais tarde se tornarem verdadeiras decepções.

Façamos da Umbanda uma religião de fé e de amor, onde todos entendam que temos um caminho e que ao caminhar por ele vamos colher os “bônus” mas também pagar os “ônus”.

Cambone

Cambones são médiuns de sustentação e tão importantes quanto os médiuns de incorporação mediúnica nos trabalhos dos Terreiros de Umbanda.

Auxiliar as entidades, o intérprete da mensagem entre a entidade e o consulente, além de um defensor da entidade e da integridade física do médium são algumas atribuições dos cambones. Também é a sua responsabilidade cuidar do material da entidade, orientar o que acontece em sua volta e ajudar no entendimento do consulente, pois, a linguagem da entidade nem sempre é entendida, mas ao cambone fica claro por sua intimidade com a entidade que ele serve.

O Cambone, médium de sustentação, é aquele trabalhador, com mediunidade ostensiva ou não, que está presente no trabalho, mas que não participa diretamente do fenômeno nem dos procedimentos de incorporação mediúnica para atendimentos.

Embora não esteja envolvido diretamente em tal feito ou na assistência, faz a sustentação energética do trabalho, mantendo o alto padrão vibratório por meio de pensamentos e sentimentos elevados.

Ao contrário do que se pensa, os médiuns cambones de sustentação são tão importantes quanto os médiuns de incorporação, pois são eles que ajudam a garantir segurança, firmeza e proteção para o grupo e para o trabalho, enquanto os médiuns de atendimento fazem a sua parte e desenvolvem o trabalho assistencial. Sua responsabilidade mediúnica é tão importante quanto a de qualquer outro médium.

Servir é um aprendizado valioso, ser o médium que camboneia não atrapalha seu desenvolvimento. A experiência como cambone é importantíssima ao aprendizado.

Curimba

Para a função de atabaqueiro e curimbeiro ou simplesmente, Ogã, como popularmente as pessoas chamam na Umbanda, é importante o preparado com excelência a fim de exercer tal atribuição.

O Ogã é peça fundamental dentro do ritual e é também um médium intuitivo que tem como função comandar todo o “setor” da Curimba. Por isso, faz-se necessário que seja escolhida uma pessoa séria, estudada e conhecedora dos fundamentos da religião.

Os toques assim como os cantos envolvem a mente do médium, não a deixando se desviar do trabalho espiritual. Além disso, a batida do atabaque induz o cérebro a emitir ondas cerebrais diferentes do padrão comum, facilitando o transe mediúnico. Esse processo também é muito utilizado nas culturas xamânicas do mundo afora.

Entrando na parte espiritual, os cantos, quando vibrados de coração, atuam diretamente nos chacras superiores, notavelmente o cardíaco, laríngeo e frontal, ativando-os naturalmente e melhorando a sintonia com a espiritualidade superior. Atuam também nos chacras inferiores (básico, esplênico e umbilical), criando condições ideais para a prática da mediunidade de incorporação.

As ondas energéticas – sonoras emitidas pela Curimba – vão tomando todo o Centro de Umbanda e dissolvem formas, pensamentos negativos, energias pesadas agregadas nas auras das pessoas, dilui miasmas e larvas astrais, limpa e cria toda uma atmosfera psíquica, com condições ideais para a realização das práticas espirituais.

A Curimba transforma-se em um verdadeiro polo irradiador de energia dentro do Terreiro, potencializa ainda mais as vibrações dos Orixás. Os pontos transformam-se em “orações cantadas”, verdadeiras determinações de magia, com um altíssimo poder de realização, pois é um fundamento sagrado e divino. Poderíamos até chamar todo esse processo de “magia do som” dentro da Umbanda.

A Curimba também é de suma importância para a manutenção da ordem nos trabalhos espirituais, com os seus pontos de “chamada das Linhas”, “subidas”, “firmezas”, “saudações”, etc.

Ritual do Bate Folha com a Cabocla Jupira

O ritual do bate folha realizado pela cabocla Jupira é um dos trabalhos mais intensos e fortes do Terreiro de Umbanda Caboclo Sete Flechas e Baiana Maria. A cabocla Jupira se apresenta como uma cabocla velha, ela traz a força do movimento, do ar e o empoderamento de uma anciã. É encantadora e sensacional a força do movimento dela, como se apresenta e como se manifesta.
Essa garra, determinação e empoderamento em movimentar a energia do ar e das ervas são os destaques do trabalho da cabocla Jupira.

“Tenho muito orgulho em poder falar sobre essa cabocla, essa ancestre que tem me ensinado tanto e trazido muitos ensinamentos de determinação, força e conhecimento do poder das ervas. Ela mostra a responsabilidade de enxergar as ervas como elementos poderosíssimos”, explica mãe Sueli.

A cabocla Jupira traz essa força de manipulação das ervas e magisticamente faz todo o ritual do bate folha. Normalmente, esse ritual é feito até 2 vezes ao ano, sendo o primeiro, em janeiro, junto ao trabalho de Oxóssi e dos caboclos. É o momento quando essa cabocla se manifesta e pede para fazer esse ritual do bate folhas, onde são usadas várias ervas em galhos. Ela usa as ervas dos galhos e vai batendo no médium ou consulente, fazendo seu rezo pedindo para expurgar, limpar todo o corpo e o perispírito sempre fazendo seus rezos com uma força e uma movimentação intensa.

“Tanto na fala e no rezo da cabocla Jupira, quanto na manipulação das ervas, conforme ela vai batendo e rezando em torno da pessoa a movimentação é enorme. Além dessa limpeza energética, que a cabocla Jupira faz, no ritual do bate folha, principalmente, para mim que incorporo a cabocla Jupira, para quem está entorno e aos que já participaram desse trabalho é visível e sentido a manipulação da energia das ervas”, ressalta mãe Sueli.

Conforme ela vai batendo, além de limpar todo o campo vibratório, toda a energia do consulente, ela tira miasmas, larvas astrais, toda e qualquer energia densa. Ela corta com essas ervas e com as espadas, tanto de Iansã quanto de Ogum, qualquer vínculo e/ou fio energético que tenha ligado à pessoa, por meio dos rezos e ervas que ela utiliza, limpando todo o médium.
Ao final dessa limpeza completa, ela equilibra todos os chakras do médium e termina com um rezo muito bonito selando e protegendo o corpo.

“É como se fosse um fechamento de corpo. Ela faz os rezos dela pedindo para que aquele corpo seja selado e protegido, para que ele não absorva nenhuma energia negativa, então, além da limpeza energética que a cabocla Jupira realiza, também há uma selagem, uma proteção blindando esse médium naquele momento para não ter nenhuma energia negativa. As rezas finais pedem para que a pessoa esteja protegida por um tempo”, explica mãe Sueli.

Com as energias das ervas, a cabocla Jupira finaliza o trabalho deixando muito claro que, por meio dos rezos, o corpo esteja selado e fechado, para que nenhum mal adentre e nenhuma energia negativa seja envolvida naquele corpo. Esse trabalho do bate folha é realmente muito forte, grandioso e muito valioso para o nosso terreiro. Recomendamos que todos os médiuns participem, já que ele acontece no máximo 2 vezes ao ano.

“Temos certeza de que a cabocla Jupira se manifesta ao menos 1 vez ao ano para realizar esse trabalho, mas, dependendo de como está o grupo mediúnico, ela pede para fazer mais vezes e, assim, ajudar os médiuns a se fortalecerem e continuarem a jornada aqui na Terra”, conclui mãe Sueli.

Okê, cabocla Jupira!